Ela se autodefine como um polvo por conta de sua atuação concomitante em áreas completamente distintas. A empreendedora Ana Maria Diniz agora tem escolas de música e dança, vai exportar mel orgânico e trabalha no desenvolvimento da cadeia de derivados de leite de cabra.
Além disso, batalha pela melhor formação de professores junto aos governos, vai entrar em energia solar, como antecipou para o NeoFeed, e se dedicar ao conselho do Península, a empresa de investimentos da família Diniz.
“Eu sou super-antenada em tudo que pode virar negócio, ainda mais negócio que dá prazer e no Brasil não tinha uma escola de música para todas as idades, independente área de atuação dos alunos”, diz Ana Maria. Uma das escolas mais tradicionais de São Paulo, a Intermezzo, tem filas de espera, conta, e “meus netos não conseguiam fazer aula lá”.
A Anacã Dança chegou a ter quatro unidades, mas duas fecharam na pandemia. Como surgiu uma casa ao lado da primeira unidade dos Jardins, Ana decidiu ampliar o escopo para além da dança e “despertar talentos em artes” de uma forma geral.
“Tem todos os instrumentos que você possa imaginar e também aula de canto com Álvaro Carolei, que é sócio e gestor. Outro sócio é o Leandro Sampaulo, que também é gestor na escola de dança”, afirma. Transformar a Anacã Artes em uma rede não está descartado.
“Eu estou sempre querendo crescer. Se houver procura, vamos ampliar. É preciso criar espaço para esses talentos da música. Mas não sei se pelo modelo de franquia porque exige uma padronização, e o professor precisa de espaço para criar em sala”, pondera.
Ana Maria fez balé clássico quando criança e depois ficou 30 anos sem dançar. Até que reencontrou com Helô Gouveia, professora de dança que “marcou” sua vida e que também se tornou sua sócia na Anacã.
“Minha paixão sempre foi o jazz e faço três aulas por semana. Depois da pandemia, as pessoas estavam em busca de se conectar com sua essência, e a música e a dança, trazem isso. Nosso lema é ‘desperte sua arte”.
Mel orgânico no Piauí e leite de cabra na Bahia
Antes da pandemia, contudo, Ana Maria já tinha passado por um momento de grande reflexão sobre “como seriam os próximos capítulos da sua vida”. “Em 2019, tive uma pneumonia muito séria. E acabei ficando em casa muito tempo e estava prostrada. No ano seguinte ia completar 60 anos e pensei muito onde poderia atuar para me sentir mais realizada.”
Lançou dois anos depois o Polvo Lab, (o nome não é coincidência), “uma startup que une negócios e soluções sociais.” É praticamente “um fundo privado de impacto meu, em que coloco R$ 1,5 milhão por ano e estamos em busca de outros seis investidores, com cotas de R$ 500 mil cada, para estruturar as operações no território”.
O Polvo faz a curadoria e dá visibilidade para produtos originais do Brasil, aqueles em que o país tem “muita vocação” e que são produzidos por cooperativas ou pequenos produtores. “A gente vai lá e ajuda a fortalecê-las para tirar essas pessoas da pobreza”, afirma Ana Maria.
O primeiro produto a chegar no mercado foi o “Mel Mesmo”. É um produto orgânico produzido no Piauí (sem interferência de defensivos agrícolas de monocultura ao redor) e que está à venda em supermercados como St. Marché, Casa Santa Luzia e Casa Santa Maria, em São Paulo.
“A cooperativa produz hoje 200 toneladas por ano e beneficia 250 famílias, mas tem capacidade para 400 toneladas e beneficiar 600. A questão que é vendiam esse produto de excelente qualidade sem cobrar pelo valor que realmente tem.”
Assim, além de criar a marca, a Polvo dá assistência técnica e financeira e está negociando com dealers internacionais para que o mel seja exportado para os Estados Unidos e Europa na categoria de orgânico. “Hoje, eles exportam pelo preço do mel convencional e o mel é o terceiro produto mais adulterado do mundo.”
A próxima frente da Polvo é com cooperativas para trabalhar com derivados de leite de cabra, em Uauá (BA). “Só no Nordeste, o Brasil tem um rebanho de mais de 11 milhões de cabras, mas os supermercados praticamente só têm produtos importados. Queremos mudar isso.”
A estratégia vai ser a mesma que foi usada com o mel, capacitar e desenvolver a cadeia. “Nosso objetivo é que o dinheiro chegue na ponta, na mão do produtor e não nos atravessadores.” No caso do mel, os produtores ficam com 15% do resultado das vendas e a Polvo, com 15% para sustentabilidade do projeto.
O modelo tem “dado tantos resultados” que “supreendentemente” o próprio governo do Piauí, do governador Rafael Fonteles (PT), contratou uma consultoria da Polvo para mapear outras cooperativas no Estado com maior potencial para acelerar produção e ter aceitação do mercado.
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